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Economista, Administrador, Analista de Sistemas e Pensador (forcei). Meu suporte está em Deus que me elegeu na eternidade como Seu filho sem nenhum mérito para mim, na minha esposa Verônica e meus filhos, os manos Accete, Raphael, Philipi e Victor. Amo a Deus sobre tudo. Mas não posso esquecer que sou Flamengo e tenho duas negas chamadas Penelope e Joaquina, a galega doida Lara Croft e a mulambo de estopa, Cocada.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Confrontando ideias e não pessoas




Dei de cara com um post no facebook e resolvi escrever algo a respeito, não pelo post em si, mas porque tenho ouvido algumas manifestações similares aqui e ali.

Pois bem, antes de tudo deixe-me qualificar para o debate, já que como a autora da peça coloca num de seus itens só pode participar do debate de forma isenta quem conhece a realidade na carne. Pressuponho que ela tenha pelo menos em parte de sua vida vivenciado essa realidade também, mesmo que ela se contradiga num outro item, mas talvez seja uma posição ideológica, já que se for a favor pode participar mesmo sem conhecer a realidade, se for contra e não vivenciou a realidade é porque é reacionário.

Mas vamos lá. Porque me acho qualificado para o debate. Nasci numa família pobre, não miserável, pobre. Não, nunca passei fome. Pelo menos um pão com margarina e café com leite sempre teve lá em casa. Meu pai, seu Aldo, um taxista, e minha mãe, dona Alice, uma costureira, sempre trabalharam muito para colocar comida em casa. Lembro com orgulho do esforço de minha mãe em virar muitas vezes 72 horas no ar no mês de dezembro para atender as várias freguesas. E do fato de raramente poder ter meu pai em casa em feriados e fins de semana, porque é nesses dias em que taxistas mais faturam. Estudei em escola particular graças a uma bolsa de estudo, e a uma tia que comprava meus livros. Na minha infância pizza era uma coisa que fazíamos em casa comprando aquelas caixinhas. Almoços e jantares fora de casa, eram raridade, uma dúzia por ano. De ônibus conheço muito, meu primeiro carro, conquistei aos 27 anos, 3 anos depois de formado, uma Parati com 12 anos de uso, enferrujada e que parava de funcionar toda vez que o motor esquentava. Fruto de 6 meses dando aula a noite até às 22:00 e nos sábados muitas vezes. Isso depois de trabalhar o dia inteiro em outro lugar. O segundo já foi um luxo, um Prêmio quatro portas com 8 anos de uso. Falando em moradia, fui criado em Maceió, num conjunto habitacional, um prédio caixão, construído a época no meio do mato. Depois de casado morei de favor num apertamento de cerca de 45 m2  também um conjunto habitacional do SFH no qual faltava água com alguma frequência e eu tinha que subir com garrafões de água 5 lances de escada porque o elevador vivia quebrando. Para comprar meu primeiro apartamento financiado pela Caixa, contei com a ajuda de meu sogro. Hoje graças a Deus e ao meu trabalho, tenho uma casa própria, um carro um pouco mais confortável, e a alguns outros confortos. Mas acho que estou qualificado pela minha história a participar do debate.
Ah! Tem mais uma coisa, já participei de protestos coletivos, e individuais, os quais considero muito mais corajosos. Já desafiei a PM pessoalmente, e sem nenhuma turba me acompanhando para que pudesse me esconder, por uma questão de justiça.

De tudo que tenho lido e visto sobre os protestos em SP e no RJ sobre o aumento das passagens, tiro algumas conclusões:

A)    Toda protesto é legítimo, é um direito inerente à cidadania, mesmo que dele faça parte alguém que não tenha sido diretamente atingido por alguma ação/omissão governamental, o que, diga-se de passagem, é mais raro, porém muito mais nobre. Pensemos no exemplo de alguém que se locomove de carro, mas pode estar participando dos protestos para defender direitos de pessoas menos favorecidas. Assim, todos, absolutamente todos, têm o direito de protestar por algo que entendem indevido.

Existem protestos legítimos e ilegítimos como qualquer outra coisa na vida. De fato protestar é um direito inerente a cidadania e permitido nos estados democráticos, já que nas várias ditaduras existentes pelo mundo este direito é vedado. Participar de um protesto mesmo sem ser diretamente afetado pela causa demonstra que a pessoa não vive alienada do mundo ao seu redor, porém denota também um arcabouço ideológico por trás disso. E aqui não estou emitindo um juízo sobre ideologia. Ela não é boa, nem ruim em si mesmo. O que é muitas vezes questionável é como nos envolvemos e o uso que fazemos dela.

B)    É difícil imaginar que milhares de pessoas estejam nas ruas sujeitas a balas de borracha, gás lacrimogênio e spray de pimenta se não estivessem se sentindo realmente desrespeitadas e vilipendiadas pelas humilhantes condições enfrentadas diariamente no transporte público  e, como se não bastasse, por ainda terem que suportar um aumento que julgam indevido e que repercute substancialmente nos seus ganhos salariais.

Essa afirmação em parte contradiz a anterior, já que a primeira identifica a participação de pessoas que estão lá apenas para defender o direito dos outros. E é inegável que muitos protestos de fato escondem outras motivações por trás do tema apresentado.

C)    Quem não se utiliza do transporte público não tem como julgar o mérito dos protestos de quem o faz, nem tampouco julgar que o aumento foi insignificante (ah, só por causa de R$ 0,20 centavos??), principalmente se não tem que pagar várias passagens por dia e não é obrigado a viver com um salário mínimo por mês.

Aqui está posta a verve ideológica da coisa. Vamos por partes. Considerando que a pessoa tenha que usar o transporte duas vezes por dia, considerando uma família de 4 pessoas, e considerando os 30 dias do mês, estaremos falando de R$ 48 a mais por mês. Para quem recebe R$ 678 é muito sim, representa 7%. Mesmo considerando que em São Paulo o salario da maioria ultrapassa os R$ 1000, ainda assim é muito. O que acho esquisito é que não haja um protesto similar pelo caos da saúde pública, que faz boa parte desse mesmo grupo, gastar mais de R$ 100/mes com atendimento médico. Não haja protesto similar pelo descaso com a educação pública que faz os que ainda conseguem gastarem dinheiro com o ensino privado de qualidade também duvidosa. E como uma das causas primárias de tudo isso, não vemos, essa turma se envolver em protestos contra os envolvidos em corrupção, pelo contrário, em Pernambuco onde moro, Inocêncios são reeleitos com uma desfaçatez ignóbil. Os nossos nobres citados no item A, são bem seletivos em seus protestos. Vivemos num estado capitalista e democrático, onde as empresas existem para ganhar dinheiro, cabe ao estado concedente do serviço fiscalizar a qualidade e inibir os abusos, mas as empresas existem para ganhar dinheiro para seus proprietários.


D)   Em qualquer protesto, sobretudo aqueles que contam com milhares de pessoas, sempre haverá excessos e se afigura injusto intitular todos os manifestantes de vândalos. Qualquer pessoa sabe que é impossível controlar a atitude de todos os participantes, exigir que eles sejam doces e respeitosos, que vistam camisas e saiam caminhando silenciosamente, que peçam "por favor" para algo ser revertido, sobretudo quando se trata de um povo tão massacrado pela corrupção e pela falta de decência e honestidade dos políticos, bem como pela falta de condições dignas de sobrevivência. Vai ver o aumento da passagem é o pingo d'água que faltava para o copo da tolerância transbordar.

De fato a generalização é burra. Mas é burra para ambos os lados, e quando digo ou insinuo, que quem crítica é porque é alienado, também estou generalizando, e logo sendo burro. Não, o aumento da passagem não é a gota d’água, mesmo porque logo, logo passa e mais uma vez virá o carnaval que no caso de Recife e Olinda expulsa parte da população de suas casas. Virá a Copa do Mundo que nos trará alguns feriados para resolver o que o governo se omite. Virão mais bolsas qualquer coisa para fomentar a candidatura de alguns, virão milhares de empregos em órgãos públicos aparelhados e ideologizados. Mesmo porque não vemos muitos com coragem a protestar contra os desmandos dos governos em todas as esferas, nem mesmo do Ministério Público que por obrigação deveria labutar sempre contra esses desmandos.

E)    É fácil criticar manifestantes e chamá-los de vândalos quando o cidadão chega de um dia de trabalho pilotando um carro com ar condicionado, tem comida na mesa, pode pagar seu plano de saúde e, no dia seguinte, não terá que acordar de madrugada para novamente se submeter ao falido sistema transporte público brasileiro.

Nesse item queria usar uma frase meio chula, mas bastante popular: “Pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Gostaria muito de saber o que os intelectuais a favor do povo que se envolvem nesse protesto, apoiam as invasões de terra de indígenas e apoiam os MSTs da vida, achariam de ter seus apartamentos em Boa Viagem, Copacabana, Morumbi, Ponta Verde, citando locais que conheço, invadidos e socializados? É diferente? Porque? Essas áreas originariamente eram ocupadas por caiçaras.

A praia deveria ser um local público, mas as mansões dos prédios residenciais a beira-mar impedem festas populares porque isso gera muito barulho e os incomoda, quem lhes deu o direito de privatizar suas praias. O que diriam se suas residências em Gravatá, Porto de Galinhas, Serrambi e Tamandaré que ficam a maior parte do ano fechadas fossem invadidas e usadas por aqueles que perderam tudo na enchente? Eu pessoalmente pago meus impostos (metade do que recebo), e tenho que pagar por saúde, educação, segurança e sem ser sustentado por ninguém, nem ter emprego público.

F)    A polícia também pratica excessos e abusos como se pode verificar em várias imagens que a imprensa tradicional normalmente não mostra por motivos óbvios e que dispensam maiores comentários.

De fato. Num tumulto não há como não serem cometidos abusos de parte a parte, só não entendo em que uma bordoada de cassetete é diferente de uma pedrada na cabeça.

G)    Grandes conquistas são obtidas com grandes lutas. Se hoje você tem direitos que considera óbvios, saiba que muita gente saiu da zona de conforto e até derramou sangue para isso.

Se formos buscar na história, considerando países democráticos, as maiores conquistas foram com manifestações que começaram individuais e silenciosas, na sua maioria pacíficas, vide a história de Rose Parks, de Martin Luther King, Ghandi, Thich Quang Duc. Não podemos confundir protesto legítimo com atos terroristas.

Essa ideologia de que quem tem alguma posse é por isso desde já culpado, me lembra certa feita em que trafegando aqui na cidade, por pouco não atropelei um menino que noite estava quase invisível, por ser de pele escura e estar trajando uma roupa escura, graças a Deus, para o meu bem e principalmente dele vinha devagar e consegui parar. Ao me dirigir a sua mãe que estava do outro lado da rua e dizer:

– Minha senhora não se deixa uma criança pequena atravessar a rua sozinha.

Ouvi de volta um sonoro berro cheio de ódio

– Voces – se referindo a mim – tem é que morrer seus pestes.

Virei inimigo daquela mulher só por ter um carro. Até entendo que pessoas que são espoliadas a vida toda tenham algum sentimento deste tipo. O que não entendo é que pessoas que tiveram privilégio ou oportunidade de ascender achem que o caminho que solucionará o mundo venha de fomentar esse ódio, mesmo porque a história já provou que os que hoje me odeiam, amanhã te odiarão facilmente, basta que em algum momento você diga não.



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