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Economista, Administrador, Analista de Sistemas e Pensador (forcei). Meu suporte está em Deus que me elegeu na eternidade como Seu filho sem nenhum mérito para mim, na minha esposa Verônica e meus filhos, os manos Accete, Raphael, Philipi e Victor. Amo a Deus sobre tudo. Mas não posso esquecer que sou Flamengo e tenho duas negas chamadas Penelope e Joaquina, a galega doida Lara Croft e a mulambo de estopa, Cocada.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Tragédia no Rio: Até onde deve ir a atuação da imprensa.


Eu estava viajando e só vi a notícia por volta do meio-dia quando cheguei em casa. Assisti estarrecido, tentando imaginar o estado que eu mesmo ficaria se isso acontecesse por exemplo na escola de meus filhos.

Não sou uma pessoa emotiva, porém lágrima vieram aos olhos ao assistir ao noticiário.

Porém, hoje no dia seguinte, pipocam teorias e certezas dos especialistas e profetas de fatos acontecidos. Eu não quero entrar nessa discussão de vender armas ou não vender, ou, como ele aprendeu a atirar? Como se disparar o revolver 38 fosse algo complicado demais. 


Eu não tenho, nem nunca tive uma arma ou mesmo a vontade de tela, porém basta uma busca simples na internet e qualquer um achará instruções. Também não quero saber dos sociólogos de plantão que prontamente associaram o ato a um pseudo envolvimento religioso do assassino.

Não quero entrar também na discussão da motivação. Que a pessoa era desequilibrada é óbvio, que o seu contexto social favoreceu também, que a sua carta não diz coisa com coisa é claro.

Prefiro tratar da atuação da imprensa. No calor do momento vi o par de governantes mais diretamente envolvidos dando uma coletiva, para mim uma cena surreal essa de assistir a imprensa escarafunchar cada um dos detalhes sórdidos da situação em busca de um grande furo jornalístico, foi horrível. Antes que me digam que esse é o papel da imprensa, aviso, sou democrata e a favor da imprensa livre, porém uma imprensa responsável, por auto controle, dos próprios jornalistas e de mais nenhum ente externo. Realço ainda que o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes não demonstraram o menor constrangimento naquela pantonímia, exaltando a ação do sargento bombeiro que matou o assassino, impedindo uma tragédia ainda maior. Nem o número de mortos e feridos era conhecido e lá estavam os dois a responder questões que naquele momento ainda impossíveis de serem respondidas.

O mais burlesco no entanto ainda estava por vir. Logo após o encerramento da entrevista, ouve-se um repórter perguntar qual a quantidade de sangue que havia na escola.

As emissoras de TV passaram o dia atualizando o número de mortos de forma online, eram 13, passaram a ser 12, depois 11, voltou a ser 12, e fechou o dia com 11. 

Logo surge uma filmagem de celular mostrando o desespero de uma criança ensanguentada e o desespero de pais e filhos se empurrando na entrada da escola. Um pouco mais tarde a câmera de segurança que deveria ter sua filmagem entregue a polícia surge em todos os meios de comunicação mostrando o momento dos tiros, crianças correndo desesperadas por salvar suas vidas.

A cereja deste bolo macabro ainda estava por vir, a noite vejo na TV chamarem uma reportagem primeiro na Globo News e depois repetido na TV Globo de uma garota de 12 anos narrando com detalhes as cenas de horror, Para qualquer um que se dê ao trabalho de pensar um pouco ao ver a imagem e a narração da menina fica patente que a "ficha não caiu", a garota ao lado da sua mãe fala a reporter com um entusiasmo de quem acabou de sair de um filme 3D de aventura. A sua mãe impassível vê a reporter instigar a menina a ser cada vez mais emotiva e detalhista, e quando chega a sua vez, sente o regozijo de estar na TV.

A culpa desta cena degradante é da menina? Não. Essa pequena vítima, duas vezes, ainda terá que conviver com a dor dessa tragédia mais para frente. Da sua mãe, talvez um pouco, mas visivelmente uma pessoa de poucos recursos financeiros e intelectuais.

Da reporter, do seu editor, certamente, a ética pessoal poderia e deveria estabelecer limites. Não falo de um órgão de imprensa voltado desde sempre ao sensacionalismo, mas ao principal órgão de imprensa do país. Não que Record, RedeTV, SBT e quem mais tenha feito diferente. Infelizmente não.

E isso muito por culpa da própria população que não tem capacidade de se indignar.

Me lembrei logo de um música do Legião Urbana, "Música Urbana", nela um verso diz: "Todos satisfeitos com o sucesso do desastre. Vai passar na televisão."

É a indignação com pequenas coisas que nos levará um dia a nos indignar com as grandes e aí quem sabe exigir das autoridades aquilo que precisamos para nosso país ser um lugar mais adequado e confortável e acessível a todos.

Eu nesse momento só consigo chorar e rogar a Deus consolo aos pais que perderam como bem disse a presidente Dilma: "pequenos brasileirinhos tão cedo'.


PS.: Acabei de saber que fizeram outra reportagem no mesmo cunho apelativo com a Jade de 12 anos no Mais Voce hoje pela manhã. E o show de horrores continua.

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