Escrevo este post em resposta a um comentário de um amigo no Facebook.
Voce
- Mais de 90% eleitos sem votação própria? Cêtáloko?! Essa foi a estatística
mais alterada que já vi essa semana. O cara recebe 10.000 votos, mas se 1 voto
da legenda recai sobre ele, entra nesses 90%.
Não vou
entrar no mérito dos 90%, mas é inegável que hoje temos no Congresso uma grande
bancada de sem votos, e de outros que até tem votos hoje, mas no passado
entraram a reboque. Pegue-se o caso de Tiririca na sua primeira eleição levou
com ele mais 4. Lembra do Enéas, levou 5 com ele. Na última eleição em Alagoas,
dos Deputados Federais, quase a metade entrou sem ter sido mais votado. Porque
os partidos adotam, Tiriricas, Romários, Enéas? Porque eles sabem que se
beneficiarão disso. Outra coisa é que no Senado, quase a metade dos Senadores é
de suplentes, mesmo sendo uma eleição majoritária.
Voce
- Aí no voto distrital teríamos, agora sem margem de dúvida, os candidatos, por
exemplo, do vale do reginaldo (financiados pelo tráfico) e o controle inverso
(para saber se os eleitores votaram neles ficaria ainda mais fácil).
Inicialmente
sobre eleger deputados do tráfico ou do crime organizado acho que a questão
pouco tem a ver com voto distrital ou proporcional e sim com ausência de estado
social, fraude e dinheiro. Vide o caso do Rio de Janeiro, onde existem
deputados conhecidamente ligados às milícias e ao narcotráfico. Por outro lado
a principal situação hoje que poderia ser combatida pelo voto distrital é o
abuso do poder econômico. Como? Nem sei se o vale do Reginaldo teria votos
suficientes para eleger um representante sozinho. Também não sei exatamente
onde começa e onde termina o vale do Reginaldo, já que ele vai do poço até a
divisão Gruta / Serraria. E vou usa-los apenas como referencia porque você
usou, mas acho algo preconceituosa a referencia. Mas voltando a questão do
poder econômico. Imagine um candidato que precise falar para 2 milhões de
pessoas, numa conta simples, um santinho a R$ 0,50 gera um custo de R$ 1
milhão, além dos custos de transporte e distribuição. Logo, é fácil deduzir que
para se tornar conhecido um candidato vai ter que gastar alguns milhões. Bem
vejamos no caso do voto distrital, imagine que o distrito em Alagoas seja algo
em torno de 220 mil eleitores, falando em Deputado Federal, seguindo a mesma
lógica anterior teríamos em torno de R$ 110 mil ou quase dez vezes menos. Não é
difícil entender que na verdade é bem mais fácil você atingir um pequeno
público do que o grande público. Tenha certeza que uma campanha distrital seria
pelo menos 20 vezes mais barata que é hoje uma eleição proporcional.
Voce
- Comunicação entre você e o partido? Você já tentou ser ouvido?
Comparar
uma situação atual com uma ainda não tentada é um argumento falso. O que se
pensa no voto distrital é exatamente que a proximidade entre candidato eleito e
comunidade facilite o entendimento do eleitor sobre as obrigações do seu
candidato eleito. Claro que isso não se dará como um passo de mágica, mas numa
operação a longo prazo. Notemos que o atual modelo proporcional já perdura por quase
5 décadas e foi um modelo adotado pelo regime militar porque favorecia
diretamente a ARENA.
Voce
- É risível, meu caro. Campanhas mais baratas? Balela! o dinheiro apenas seria
destinado pra outros meios, muitas vezes ilícitos.
Acho que
já expliquei acima essa questão, mas gostaria de reforçar que com campanhas
mais baratas pessoas “mais” honestas poderiam se candidatar. Líderes
comunitários de verdade, não pelegos, professores, gente de fato interessada em
melhorar as coisas.
Voce
- Memória eleitoral? Pare de se iludir. Quem tem memória somos eu, você, alguns
aqui...
De fato nos falta memória, muito porque nem lembramos quem elegemos, mas mais uma vez você usa um argumento do quadro atual para projetar o quadro da mudança sugerida.
Voce - O que tem de haver é a reciclagem da população. CONSCIENTIZAÇÃO séria e inteligente. Oriunda de um processo gradual e persistente.
Pois a
mudança sugerida é exatamente um passo de aperfeiçoamento nesse processo
educacional da população.
Voce - Cara... Divaguei um pouco, mas... Em suma, #EuNÃOvotodistrital pelas razões expostas e mais uma série de outras que posso passar uma tarde discutindo.
Como uma
pessoa afeita ao diálogo gostaria muito de ouvir razões concretas contra a
ideia do Voto Distrital. Não argumentos no estilo não adianta mudar nada porque
nada mudará.
Não acho
que o voto distrital seja A SOLUÇÃO. Apenas é mais uma peça de
um quebra-cabeça complexo, onde listo outras coisas como fim de coligações,
transparência nas doações de campanha, fim de suplência, fim da reeleição por
exemplo.
Voce
- Precisamos de mudança? SIM. Mudança no espírito popular. A reciclagem da
população deve acontecer antes mesmo da reciclagem dos políticos. As discussões
no palanque têm que ser mais inteligentes e a população, para isso, deve estar
apta a cobrar. Como isso será feito? Não sei. Ainda não me sobreveio uma
ideia digna de ser espalhada.
Por minha vez
sinto a necessidade de mudança, e acho improdutivo esperar que ela surja do
nada como um Pentecostes de consciência crítica na população. Entendo que
pessoas mais esclarecidas debatendo ideias e lutando por pequenas mudanças
conseguirão a longo prazo grande mudanças.